Em “No seu pescoço”, Chimamanda nos presenteia com toda sua habilidade em descrever as relações humanas que regem a sociedade. Nos doze contos que compõem o livro, a autora cria seu próprio mosaico de temas — indo da Nigéria aos EUA, do colonizado ao colonizador, do branco ao negro, do velho ao jovem.
Parece não existir um assunto sobre o qual Chimamanda não possa mergulhar. Quebrando estereótipos e mostrando, mais uma vez, o poder da sua escrita, nesta obra a autora faz aquilo que todo escritor sonha em fazer: retratar a sociedade e o humano de forma profunda, a partir de uma prosa que hipnotiza o leitor.
“[…] explicando que as ondas de violência não acontecem do nada, que a religião e as etnias muitas vezes são politizadas porque o governante fica a salvo quando os governados famintos matam uns aos outros.”
É também neste livro de contos que a autora discorre sobre seu processo de se descobrir negra, quando deixa a Nigéria e passa a morar nos EUA. A partir de um movimento geográfico, a escritora redescobre sua própria identidade — foi ocupando este novo lugar, onde ter a cor da sua pele não era o universal, mas uma fuga do padrão carregada de estigmas, que Chimamanda se depara com o peso social de ser uma pessoa negra em diáspora; mas também com a potencialidade da sua voz.
Além de escritora, a nigeriana é uma das personalidades negras contemporâneas mais influentes no mundo todo — sua voz tem o potencial de conversar com muitos, de maneira didática e direta. A autora, feminista autodeclarada, tornou-se mundialmente conhecida por suas declarações, principalmente a respeito do feminismo. Sua conferência O perigo da história única conta hoje com mais de 9 milhões de visualizações no Youtube. Uma outra conferência sua, Sejamos todos feministas, — relembrando que a necessidade de discutir gênero não pertence só às mulheres, mas à toda sociedade — também viralizou, ganhando até mesmo uma versão escrita.
Em um contexto em que, até então, grande parte das vozes feministas em destaque eram brancas — apesar de que outras mulheres negras, como bell hooks e Angela Davis, sempre estudaram e discutiram sobre o feminismo de maneira completa e revolucionária — Chimamanda é uma jovem voz que reinventa a noção universal de mulher: branca e ocidental.
Como toda boa literatura se propõe a ser, “No seu pescoço” é um excelente exercício de alteridade e empatia — para quem busca entender como é ocupar outros lugares no mundo, além do seu.
Chimamanda escreve contos que abrem um leque de opressões sociais que se interconectam hoje em dia. Nas doze histórias, encontramos e aprendemos sobre questões raciais, culturais, de gênero, de classe e de educação. Para abraçar toda sua pluralidade, o mundo atual precisa de leituras como essa.
Para conhecer a edição de “No seu pescoço” (em capa dura!) que faz parte da Trilha Vozes Negras — junto a outros seis grandes livros da literatura nacional e internacional, acesse aqui. Vamos enegrecer as nossas bibliotecas?