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Indicações de livros

Uma viagem ao oriente

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Uma das coisas mais interessantes da TAG é o fato de seus livros nos levarem a um lugar diferente a cada mês. Estou falando em termos geográficos, claro, mas também em relação a estilo e história contada. Nos últimos três meses, tivemos um livro catalão de linguagem coloquial, emulando as voltas dos pensamentos de Colometa (opa, fui eu que escolhi esse!); um romance inglês situado no entreguerras, com diálogos mordazes, detalhes aristocráticos e uma velada relação homossexual; agora, com O alforje, estamos diante de uma fábula situada no Oriente Médio, contada através de múltiplos pontos de vista.

No ano passado, os contos de A câmera sangrenta e outras histórias também haviam bebido das histórias folclóricas, vestindo-as com uma roupagem contemporânea que envolvia discussões sobre feminismo. Isso e o tom gótico das histórias gerava um estilo muito peculiar, o estilo de Angela Carter. No caso do romance de Bahiyyih Nakhjavani, o tom também me parece pré-moderno, o que combina bastante com a paisagem desértica por onde passam os personagens. É como se a gente estivesse vendo uma cena bordada em uma tapeçaria.

Ainda que Nakhjavani tenha sido influenciada por textos sagrados e pelas narrativas de Chaucer – oriundas do século XIV –, a iraniana escreveu seu romance no ano 2000. E mesmo as narrativas que retratam tempos passados carregam sempre alguma coisa do seu tempo, é inevitável. Em O alforje, o “ingrediente contemporâneo” talvez seja o humor; a prosa de Nakhjavani mistura um certo deboche contido com o tom sério e definitivo dos textos religiosos. O mau cheiro do cadáver é um desses detalhes que quebra a seriedade daquela travessia.

Embora a história tenha fortes tintas religiosas, muitos dos personagens são, além de crentes, legítimos farsantes e aproveitadores. Sinal que seguir as escrituras não faz de ninguém, obrigatoriamente, uma boa pessoa. E sinal de que Bahiyyih Nakhjavani, com seu olhar crítico, não podia mesmo estar no Irã de 2018.

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2 comments

    • Oi, Debora! “O alforje” nunca havia sido publicado no Brasil. Por isso, por enquanto, o livro é exclusivo para os associados da TAG.

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