O autor de Torto arado acaba de conquistar seu segundo Prêmio Jabuti de Literatura. Itamar Vieira Junior tornou-se um dos autores mais lidos do Brasil com seu primeiro romance, publicado em 2019. A trama conta a história de duas irmãs em uma fazenda no sertão da Bahia, desde um acidente na infância que muda suas vidas para sempre, até a vida adulta. Além do Jabuti, a obra conquistou os prêmios Leya e Oceanos, foi indicada ao International Booker Prize, traduzida em dezenas de países e recentemente alcançou a marca de um milhão de exemplares vendidos. O livro ganhou ainda uma adaptação musical para o teatro e será lançado em formato de série na HBO.
Cinco anos depois de lançar a obra que o alçou ao patamar de fenômeno editorial, o escritor baiano recebeu novamente o reconhecimento da Câmara Brasileira do Livro na categoria Romance Literário. Desta vez, por Salvar o fogo, o segundo volume da tríade que começou com Torto arado. Agora, ele trabalha no terceiro e último livro da série. A cerimônia da 66ª edição do Prêmio Jabuti aconteceu no auditório do Parque Ibirapuera, em São Paulo, na noite do dia 19 de novembro.
Salvar o fogo e a trilogia sobre a terra
Licenciado e mestre em Geografia e doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela UFBA, Itamar Vieira Junior tornou-se, antes de ser escritor, funcionário do Incra – órgão federal para implantação da reforma agrária. A luta pela terra tem lugar cativo no seu trabalho como pesquisador e servidor público, o que explica a profundidade e a consistência com que o tema atravessa sua produção literária.
Salvar o fogo dá continuidade à sua missão de construir uma trilogia sobre a terra, refletindo a proximidade afetiva, profissional e simbólica do autor com o campo, seja por laços familiares ou pela atuação com camponeses na luta pela reforma agrária. Dividida em quatro partes, a narrativa intercala pontos de vista, costurando a trama de uma família que vive em Tapera do Paraguaçu, um povoado no interior rural da Bahia. A obra toca nas complexidades dessa relação familiar, atravessada por um afeto desajeitado e por vezes violento, em meio às circunstâncias sociais, raciais, econômicas e religiosas que marcam aquele território.
Embora os personagens e o enredo sejam diferentes daqueles que os leitores conheceram em Torto arado, há um fio fundamental que conecta as duas narrativas. “São histórias que de alguma maneira me ajudaram a refletir sobre como o legado colonial e escravagista ainda impacta nossas vidas”, diz Itamar. A força narrativa do autor encontra suas raízes nos múltiplos significados da memória – íntima e coletiva, presente e ancestral. Além dos dois romances, Itamar lançou os volumes de contos Dias (2012), A oração do carrasco (2017) e Doramar ou a Odisseia (2021). Seu livro mais recente é voltado ao público infantil. Em Chupim, o autor retoma o universo de Torto arado para dialogar com crianças sobre a realidade do campo.
Itamar e TAG
Itamar Vieira Junior foi o curador da TAG em janeiro de 2023. Ele inaugurou o ano de leituras dos associados com a maravilhosa indicação de Mama, da escritora estadunidense Terry McMillan. Até então, o livro era inédito no Brasil, e a edição foi totalmente produzida em casa. Ou seja, a TAG encabeçou todas as etapas de produção do livro! Foi uma caixinha especial por muitos motivos, e a curadoria do Itamar fez toda a diferença.
Por enquanto, a gente traz esse histórico para matar a saudade. Mas em breve os associados da TAG verão novos capítulos dessa parceria do clube com o escritor mais prestigiado da literatura brasileira atual.
