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“Úrsula” abre a trilha e caminhos para a literatura negra no Brasil

úrsula , maria firmina dos reis Share this post
     Ana Souza

“Úrsula” é a obra que abre a trilha Vozes Negras, um projeto literário da TAG que nasceu com o propósito de enegrecer nossas bibliotecas. Mas, mais do que isso, esse livro pioneiro abriu caminhos para toda a literatura negra (e feminina!) produzida no Brasil. 

Profundamente marcado por sua condição de ser o primeiro romance escrito por uma mulher negra brasileira, a escrita da obra é atravessada por questões do seu tempo que ressoam até hoje nas maiores dores estruturais de um país que viveu quase 400 anos em um regime escravocrata.

 

Ilustração: Gabriela Reis
Maria Firmina dos Reis, sua autora, assim como muitas outras escritoras e escritores negros, utilizam da literatura não somente para denunciar uma realidade dura, mas também para traçar caminhos a outro

futuro. 

“Úrsula” foi publicado originalmente em 1859, sob o pseudônimo de “uma maranhense”. Já no prefácio da obra, a autora conta que este livro “não deve valer muito”, anunciando aos leitores sua realidade: na metade do século XIX, as produções literárias de autoria negra, sobretudo de mulheres negras, não eram vistas com bons olhos. 

 Mais do que simplesmente o primeiro registro literário de autoria negra e feminina, o romance é um livro abolicionista — considerada por muitos historiadores como sendo o primeiro do Brasil abertamente contra à escravidão —, que usa do poder da escrita para retratar e denunciar o tempo em que se vive. É uma obra literária de fundamental importância para se entender as consequências históricas, sociais e políticas — além das emocionais e psicológicas — deixadas pelo sistema escravocrata e que repercutem até os dias de hoje na estrutura da nossa sociedade.

”… e amaldiçoo em teu nome ao primeiro homem que escravizou a seu semelhante”

 

— Maria Firmina dos Reis em Úrsula

O romance seria o que muitos consideram como a primeira obra da literatura afrobrasileira — justamente por tratar sobre a condição do ser negro no Brasil de maneira reflexiva. Apesar da protagonista do livro ser uma mulher branca, pela primeira vez na história da literatura brasileira há uma narrativa sobre a escravidão conduzida por uma perspectiva afro-descendente.

Inicialmente, o livro pode aparentar se tratar de mais um romance impossível entre dois jovens, assim como muitos outros do seu tempo. Porém, basta avançar um pouco na leitura para notar que o tratamento dado aos personagens negros e a percepção da escravidão marca a obra de maneira a evidenciar que seus propósitos são outros.

De certa forma, Maria Firmina dos Reis se utiliza do romance romântico como estratégia política de denúncia às injustiças raciais, de classe e de gênero. 

Mesmo com toda sua importância e simbolismo, por muito tempo a obra não recebeu o reconhecimento que merecia — ficando “escondida” por anos dos grandes nomes da literatura. Foi apenas em 1975 que o romance ganhou sua segunda edição. Nos últimos tempos, ”Úrsula” tem se posicionado ainda mais onde sempre deveria ter estado: entre os grandes clássicos literários brasileiros. 

Para conhecer a edição de “Úrsula” (em capa dura!) que faz parte da Trilha Vozes Negras — junto a outros seis grandes livros da literatura nacional e internacional, acesse aquiVamos enegrecer as nossas bibliotecas?

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