Um mundo de opressão social e de pobreza, no qual uma mulher é apenas ventre e braços. Aliás, armas que Nnu Ego usa com absoluta coragem – numa peleia constante, ela resiste a uma existência inteira de percalços, construindo a sua família ao lado de um homem que nunca chegou a admirar, trabalhando como uma escrava para criar e alimentar os muitos filhos que gerou para a glória do marido e para a sua redenção pessoal.
Fiquei pensando em como classificar as horas que passei mergulhada no mundo de Buchi, nesta Nigéria pobre e difícil, espantosa e mágica, na África machista da primeira metade do século XX, e encontrei-me com a proposta da TAG em toda a sua verdadeira dimensão: o livro de Buchi Emecheta foi uma experiência literária única. Uma aventura que se iniciou com certa estranheza, confesso, mas que se transformou em maravilhamento, em puro fascínio.
Pelas distâncias que me separam de Buchi Emecheta, As alegrias da maternidade foi um presente que a TAG me deu. E, no entanto, apesar de triste, duro e difícil, o cotidiano da família de Nnu Ego e o espírito do livro guardam em si uma espécie de humor, uma alegria teimosa. Ao final da leitura e ainda chorando (sim, eu ofereço o meu quinhão mensal de lágrimas à TAG), um déjà vu de satisfação literária me veio, e lembrei de um livro que considero inesquecível – também um romance sobre uma cultura não-ocidental, erguido sobre a mesma humanidade a partir da qual Buchi Emecheta faz a sua história – Uma casa para o Sr. Biswas, de V. S. Naipaul.
Achei que As alegrias da Maternidade e Uma casa para o Sr. Biswas são livros irmãos. Naipaul nos traz Biswas e seus dramas mais profundos, e Emecheta nos apresenta aqui, erguida com palavras, mas tinta de sangue, absoluta em sua grandeza e tocante em sua fragilidade, a corajosa filha de Agbadi. Foi difícil fechar o romance, mas Nnu Ego segue comigo como sói acontecer quando um grande personagem passa pela nossa vida.
Eu também comecei o livro com muita estranheza, mas depois ele se apoderou de mim com uma força que somente os grandes livros são capazes de fazer. Amei o livro e, principalmente a escrita da autora, a qual (a autora) para mim era completamente desconhecida. Conhecer um pouco dessa cultura ancestral foi maravilhoso. TAG mais uma vez arrasa! Parabéns também a Letícia, pelo excelente texto.