O processo de escrever um livro começa muito antes que as primeiras frases encontrem seu lugar na materialidade da página. No caso de Nadando no escuro, livro do mês da TAG Curadoria, essas palavras vieram de longe – atravessaram fronteiras de tempo e espaço, gerações e períodos turbulentos da História, foram e voltaram de diferentes países, fluíram no imaginário de Tomasz Jedrowski em mais de um idioma até acomodarem-se com graça e força nas páginas. Nascido na Alemanha e filho de pais poloneses, o autor deste mês compõe no seu romance de estreia um arranjo primoroso de experiências pessoais, memórias familiares anteriores ao seu nascimento e a história do seu território de origem, a Polônia. Leia abaixo a entrevista exclusiva de Tomasz Jedrowski para a TAG!
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5 PERGUNTAS PARA TOMASZ JEDROWSKI
1) Vamos começar pela sua trajetória. Quando você percebeu pela primeira vez que era um escritor? O que te instiga a contar histórias?
Consigo me lembrar de vários momentos no final da adolescência e começo dos vinte anos em que eu sonhava em ser escritor, sem saber exatamente por quê. Acho que eu me sentia atraído por uma vida de criação, em que não me sentisse preso às demandas dos outros. Claro, eu não acreditava que fosse uma escolha de carreira realista – parecia algo infantil, presumir que as pessoas se importariam com o que eu tinha a dizer. Foi só quando comecei a trabalhar como advogado e me senti completamente preso que de repente se tornou urgente decidir o que fazer da minha vida. E de alguma forma consegui dar o salto para algo que realmente me entusiasmava. Talvez tornar-se escritor seja tanto um ato de imaginação (e força de vontade) quanto o próprio ato de escrever.
2) Nadando no escuro é uma história poderosa e comovente ambientada na Polônia comunista. O que te inspirou a escrever um romance histórico e por que esse período foi importante para a história que você queria contar?
Para mim, escrever romances é uma forma de tentar entender o mundo, e sou atraído por períodos históricos que parecem guardar algumas pistas. Meu pai e minha mãe cresceram na Polônia comunista e, embora o sistema tenha colapsado quando eu tinha cinco anos, senti que precisava explorar essa parte da história se quisesse entender de onde minha cultura e eu mesmo viemos.
3) A história de amor entre Ludwik e Janusz é central no seu romance e aborda temas LGBTQ+ de uma forma profunda. Como essa trama e esses personagens ganharam vida?
O ponto de partida foi imaginar como seria minha vida enquanto pessoa queer se eu tivesse nascido na geração dos meus pais. Queria lançar luz sobre as vidas vividas nas sombras e sobre a dificuldade de um amor que precisa ser escondido. Desconstruir a vergonha das gerações passadas faz parte do processo de cura no presente e é essencial se quisermos construir um futuro mais saudável e menos violento.
4) O livro é contado em flashbacks que reconstroem a história de amor entre jovens – uma escolha narrativa que cria uma distância interessante entre o Ludwik de agora e o Ludwik do passado. Se você pudesse voltar no tempo, o que diria ao seu eu mais jovem?
Tudo vai ficar bem. Eu te amo. Relaxe. Estou bem aqui.
(Essa é realmente a mensagem que meu futuro eu mais velho me diz agora quando estou enfrentando dificuldades.)
5) Você está escrevendo algo novo no momento? Quais são seus projetos futuros?
Tenho trabalhado no meu segundo romance nos últimos cinco anos e mal posso esperar para lançá-lo no mundo. Ele é ao mesmo tempo semelhante a Nadando no escuro e radicalmente diferente – mais detalhes em breve!
A ESTANTE DO AUTOR
Primeiro livro que li: Harry Potter?
Livro que estou lendo: The Pillow Book (Makura no Soshi), de Sei Shonagun, e Sobre as mulheres, de Susan Sontag.
Livro que mudou minha vida: O quarto de Giovanni, James Baldwin.
Livro que eu gostaria de ter escrito: O que eu estou escrevendo agora.
Último livro que me fez chorar: De novo, o que eu estou escrevendo agora. Chorei alguns dias atrás relendo uma cena entre os dois personagens principais.
Último livro que me fez rir: No one belongs here more than you, Miranda July.
Livro que eu dou de presente para as pessoas: Grande magia, Elizabeth Gilbert.
Livro que não consegui terminar: Pedro Páramo, Juan Rulfo (Tentei, sem sucesso, ler em espanhol).
Uma escrita que toca a gente, que leva a gente junto. Gostei bastante do livro. Amei e odiei Janusz. Ótima escolha da TAG.
Conclui a leitura e foi uma experiência literária incrível! A narrativa e a conjuntura do tempo foram envolventes! Nas primeiras linhas foi atraído por palavras carregadas de sentimentos … e um final que retrata a vida como ela saber ser para cada um de nós!