Jornalista, contista, romancista, novelista, poeta e dramatugo. Vida e obra de Caio Fernando Abreu se misturam em textos que transitam livremente entre a banalidade do cotidiano, a profundidade dos sentimentos íntimos e os acontecimentos sociopolíticos de seu tempo.
A literatura de Caio é confessional e política, materializando a conexão sensível com o mundo interno dos personagens e do próprio autor — atravessado pela cultura, pelo prazer e pelas tragédias da época. Em uma escrita livre, implicada e afetiva, a repressão da ditadura militar permeia seus textos assim como a experiência queer, o amor, o sexo, a angústia, o medo e a busca por sentido.
Selecionamos três livros para você conhecer, mergulhar e se apaixonar por esse escritor que segue encantando leitores de todas as gerações.
1. Onde andará Dulce Veiga?
Um jornalista em crise investiga as pistas de uma cantora desaparecida na década de 1960 e mergulha em um processo pessoal de resgate e reconstrução de sua identidade. Fim da ditadura, epidemia da AIDS, a MPB dos anos 80, repressão e desejo, a angústia e as fugas possíveis, os símbolos de que uma geração precisa. Um romance que é a síntese perfeita dos temas mais presentes na obra de Caio.
2. Morangos mofados
Uma coletânea de contos considerada por muitos como a obra-prima do autor. As manchas do medo sobre a liberdade e a diferença se manifestam dolorosamente, tornando necessários e implacáveis o desbunde e o sonho. A prosa visceral de Caio é potencializada pela hesitação coletiva de um país que vislumbrava a redemocratização, traduzindo as inconstâncias humanas íntimas e coletivas.
3. Triângulo das águas
Três histórias curtas atravessadas por uma prosa poética com múltiplos pontos de vista e inspiração astrológica, para encarar o mundo com beleza e uma pitada de esoterismo. A água é substância dos sentimentos, do inconsciente e da transformação dos personagens. Considerado pelo autor como o mais atípico de seus livros, o volume rendeu a Caio seu primeiro Jabuti, em 1984.
Breve biografia
Nascido no interior do Rio Grande do Sul em 1948, Caio Fernando Abreu foi com a família para Porto Alegre ainda na adolescência. Aos 18 anos, publicou seu primeiro conto na imprensa, e aos 20 anos, se mudou para São Paulo. No começo dos anos 70, o escritor publicou seu primeiro romance, Limite branco.
Ele passou aquela década driblando a perseguição pela ditadura militar entre São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e o exílio em Londres e Estocolmo. No período, chegou a ficar refugiado na Casa do Sol, no sítio da escritora Hilda Hilst, referência literária e amiga pessoal de Caio. O livro Numa hora assim escura, de Paula Dip, reúne a correspondência entre os dois. O escritor, aliás, tem numerosos registros epistolares com outras figuras do meio literário. Vários deles estão disponíveis na coletânea Cartas: Caio Fernando Abreu, organizada por Italo Moriconi.
Em 1993, Caio Fernando Abreu foi diagnosticado com HIV e publicou uma série de crônicas semanais no Estadão. Suas Cartas para além do muro quebraram o silêncio e desafiaram o estigma em um forte relato de importância literária, afetiva e política. O escritor faleceu por complicações da AIDS em 25 de fevereiro de 1996, em Porto Alegre.
Os crepúsculos têm sido lindos. Passei o melhor verão da minha vida, ganhei um gatinho chamado Saturno (ele é Capricórnio), amei muito, fiz ioga à beira-mar. Enfim, tenho agradecido por estar vivo e ter andado por todos os lugares onde andei e ter vivido tudo o que vivi e ser exatamente como sou.
Caio Fernando Abreu em carta a Lygia Fagundes Telles
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