Zadie Smith é um fenômeno. Filha de pai inglês e mãe jamaicana, a escritora reflete sobre sua identidade birracial e demonstra, através dos seus personagens, que a identidade pode ser uma construção fluída, híbrida e em constante formação.
Em seu primeiro livro, “Dentes brancos”, que tão logo lançado já lhe rendeu elogios da crítica e do público, Zadie fala sobre isso: identidade e encontros. A autora teve um sucesso internacional tão estrondoso que muitos críticos afirmaram que ela era a primeira jovem negra a conseguir tal feito — geralmente reservado a homens brancos norte-americanos e europeus.
No decorrer da trama, a escritora insere discussões sobre família, imigração e racismo no contexto de uma Londres multicultural, onde os personagens estão buscando, desesperadamente, formar laços e ter um porto seguro.
O livro realiza o caminho de contar uma história trágica: a colonização, a diáspora e a “mestiçagem”.
Esgotado no Brasil e em edição exclusiva pela TAG, “Dentes brancos” é um livro que, publicado no início dos anos 2000, interpreta com profundidade as relações contemporâneas e afirma que, sim, o passado tem tudo a ver com o presente. Na narrativa do livro, que se dá no contexto de uma Inglaterra contemporânea e “mestiça”, a britânica busca mostrar que o passado é a colonização e, consequentemente, o agora (presente) é a “mestiçagem”.
O romance narra a história de dois amigos que se conheceram durante a Segunda Guerra Mundial – o inglês branco Archie Jones e o bengali Samad Iqbal. O final da guerra os separa, mas eles vão se encontrar em Londres 30 anos depois, onde moram com suas respectivas esposas e filhos. Em comum, os pais têm dificuldade em lidar com os filhos, que adentram a idade adulta nos conturbados anos 90. Os pais não sabem o que fazer da nova geração. E a nova geração não sabe o que fazer com a própria vida.
Em “Dentes brancos”, Zadie questiona com ironia e sutileza: o quanto o mundo está, de fato, disposto a mudar para melhor? O livro da escritora britânica é um desses fabulosos trabalhos que usam a linguagem para recontar memórias de dor a partir de muito sarcasmo e beleza. É uma denúncia aos vícios coloniais que seguem vivos na Europa e no mundo: o racismo e o patriarcalismo.
Smith apresenta, já em seu livro de estreia, uma narração que conversa com quem está realizando a leitura. Abrindo, aos leitores e leitoras, possibilidades para perguntas como: e você, o que faria?
É parte da construção da linguagem da obra a presença de uma voz narrativa que, como em um exercício de memória — e, por isso, há falhas, trocas e equívocos — vai remendando e repetindo acontecimentos vividos pelos personagens. A sustentação da sua linha narrativa não está no desfecho, mas sim na tensão da história.
“Dentes brancos” não é uma obra fácil. É o tipo de arte que nos constrange e, nesse constrangimento, ela firma sua denúncia contra o racismo estrutural.
Além disso, o livro se coloca como um instrumento contra a colonização e toda a guerra que a opressão colonizadora (racista e patriarcal) trava contra o multiculturalismo e a diversidade cultural.
Para conhecer a edição de “Dentes brancos” (em capa dura!) que faz parte da Trilha Vozes Negras — junto a outros seis grandes livros da literatura nacional e internacional, acesse aqui. Vamos enegrecer as nossas bibliotecas?