As marcas histórico-sociais impressas nos povos colonizados refletem no modo como seus artefatos culturais são produzidos. As estratégias que os indivíduos utilizam para resistir ao violento processo de exploração coletiva são variadas e constituem um luminoso mosaico de vasta repercussão estética. Aqui estão alguns exemplos de obras que, de um modo particular e com excelência estética, procuram reelaborar os renitentes efeitos sociais de uma longa herança de dor e resistência.
O beijo na parede, de Jeferson Tenório
Publicado em 2013, esse é o romance de estreia de Jeferson Tenório, autor carioca radicado em Porto Alegre que ganhou projeção nacional com o livro O avesso da pele. A história de João, menino órfão que, aos onze anos, inicia uma jornada de autodescoberta, com tons de investigação dickensiana sobre os limites da linguagem e da fantasia.
Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus
Espécie de diário sobre a rotina e as impressões da fértil vida interior da catadora de papel Carolina Maria de Jesus, essa obra tornou-se incontornável no Brasil e foi um best-seller de sua época. Com achados linguísticos surpreendentes e construções imagéticas singulares, Jesus faz de seu texto uma poderosa crítica sobre o processo de urbanização e sobre a natureza excludente do projeto civilizador moderno.
Pesado demais para a ventania, de Ricardo Aleixo
Um dos mais expressivos nomes da poesia brasileira, o mineiro Ricardo Aleixo ganhou essa antologia extremamente necessária para os tempos atuais, na qual sua genialidade e sua combatividade estética ficam evidentes. Trata-se de um poeta completo, que domina tanto o palco quanto o papel, em uma demonstração de que performance também é autoria.
E se alguém o pano, de Eliane Marques
Vencedor do Prêmio Açorianos de 2016, essa obra apresenta a dicção peculiar da psicanalista gaúcha Eliane Marques. Construída sob um ideal de linguagem que se propõe tornar possível não apenas o ato de escrever poesia, mas o direito de refundar suas bases e seus parâmetros, sua produção aponta para novos caminhos da poesia brasileira.
Dessa cor, de Fernanda Bastos
A estreia literária da jornalista Fernanda Bastos, publicada em 2018, representa a concretização de um ambicioso projeto estético que propunha unificar ativismo e sofisticação estética. Um de seus poemas, “Mãe preta”, foi classificado por Sueli Carneiro como “uma obra-prima”. A boa recepção crítica levou ao esgotamento das duas primeiras edições e deu à obra o rótulo de cult-seller. Trata-se de uma rara autora que produz tendo em uma das mãos um punhal e na cabeça um imenso e renovado dicionário.
Girassóis estendidos na chuva, de Louise Queiroz
Uma das expoentes do processo de renovação da literatura brasileira, Louise Queiroz trabalha com elementos radicais da cultura afro-brasileira, como o candomblé. Com uma impressionante habilidade verbal, Girassóis estendidos na chuva examina metaforicamente a habilidade que os girassóis possuem de procurarem o sol, mas seu fascínio advém do reconhecimento dolorido de nossa capacidade de inventá-lo.
Lugar de fala, de Djamila Ribeiro
Publicada em 2017, essa obra-prima do pensamento contemporâneo tornou-se rapidamente um fenômeno editorial que catapultou a filósofa Djamila Ribeiro à condição de nome fundamental do debate público no Brasil. Nela, a autora discute o impacto da perspectiva social do observador na construção de sua leitura sobre a realidade que o cerca
Memórias da plantação, de Grada Kilomba
Através de uma série de reflexões de cunhos psicanalítico e teórico-literário, Grada Kilomba disseca o modo como o racismo se insere nas dinâmicas culturais pós-modernas. A autora tornou-se uma importante voz ao unificar as esferas visuais e linguísticas em uma robusta produção estética, cuja contribuição crítica tem sido essencial para repensar o que significa ser minoria no mundo contemporâneo.
BÔNUS: indicação do clube
Jeferson Tenório é o curador convidado do kit de agosto da TAG Curadoria e sua indicação traz a obra de uma das vozes mais influentes da literatura contemporânea africana. O livro do mês faz um resgate histórico e cultural do Quênia, apresentando um debate sobre colonialismo onde o autor registra, com delicadeza, um passado que ainda tem muito a dizer ao presente.
Para a indicação de Jeferson Tenório, basta realizar a sua assinatura em nosso site até o dia 08/08. Venha fazer parte da nossa comunidade literária!
Esperamos por você!