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Curiosidades literárias

Lima Barreto: do esquecimento ao prestígio

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O ano de 2017 marca 95 anos da morte de Lima Barreto e coincide com a homenagem da Flip deste ano e com o lançamento de sua biografia (Lima Barreto – triste visionário, de Lilia Schwarcz). Apesar da forte influência exercida no movimento modernista do Brasil e do resgate de sua obra ocorrido a partir dos anos 50, é um escritor que costuma ser “muito citado, pouco lido”.

Neto de escravos, mestiço, Afonso Henrique de Lima Barreto nasceu em 1881 e empregou em sua obra denúncias às injustiças sociais e ao preconceito racial, do qual foi vítima. Enfrentou, também, dificuldades por produzir uma literatura desprendida dos gostos e padrões de sua época.

Apesar da situação econômica precária de seus pais, teve acesso a uma educação de qualidade, direcionada à elite da época, em virtude da ligação do pai com um político do Império, o Visconde do Ouro Preto, padrinho de Lima Barreto. O menino, no entanto, perdeu a mãe aos seis anos, circunstância que trouxe dificuldades para a família, obrigando-o a trabalhar desde jovem.

Com a ajuda de seu padrinho, Lima Barreto cursou Engenharia na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, mas não pôde se formar, pois o pai enlouqueceu e ele teve de se responsabilizar pelo sustento de seus três irmãos. Logo, dividiu-se entre dois ofícios: um burocrático, no Ministério da Guerra, e outro como jornalista, em diferentes periódicos do Rio. Em pouco tempo, estaria no Correio da Manhã, publicando artigos e crônicas. Com alguns amigos, fundou a revista Floreal, de apenas quatro números – é nela que começou a publicação do folhetim Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909), que, traçando um panorama histórico e social do início do século XX, narra o percurso de um homem que não consegue inserir-se na sociedade por conta do preconceito racial.

O mais célebre romance de Lima Barreto é Triste fim de Policarpo Quaresma (1911), publicado como folhetim no Jornal do Comércio entre agosto e outubro de 1911 e considerado pela crítica literária o principal expoente do Pré-Modernismo no Brasil. A obra tem como foco os ideais e decepções de Quaresma, brasileiro e nacionalista fanático que, a cada nova tentativa de levar seu país ao progresso e à prosperidade, é ainda mais desacreditado e ridicularizado – o que faz paralelos à trajetória de Lima Barreto, legítimo outsider da literatura brasileira.

Tendo experienciado uma vida de constante desprestígio, crítica e preconceito, o escritor enfrentou crises de depressão, entregando-se ao álcool e sendo internado por duas vezes no Hospício Nacional. Faleceu aos quarenta e um anos, vítima de um colapso cardíaco, já caído no esquecimento e na miséria, em 1922. Além do resgate que sua obra receberia décadas mais tarde, outros livros foram publicados postumamente, como o recente Sátiras e outras subversões (2016), compilação de textos originalmente publicados em periódicos e atribuídos, na época, a pseudônimos do autor.

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